Transformar o lixo em energia elétrica e combustível é o destino sustentável que São João de Meriti, na Baixada Fluminense, pretende dar às ...
Transformar o lixo em energia elétrica e combustível é o destino sustentável que São João de Meriti, na Baixada Fluminense, pretende dar às cerca de 400 toneladas diárias de resíduos urbanos da cidade. O município vai receber uma das primeiras Unidades de Recuperação Energética (UREs) do Brasil, que será pioneira na América Latina em produzir óleo diesel a partir de plásticos, como as garrafas PET e pacotes de biscoito que emporcalham rios, lagoas e baías fluminenses. O projeto é uma parceria da URE Fluminense com a Mais Verde, concessionária de limpeza urbana local, com investimentos externos. E deve ter obras concluídas até 2023, na Estação de Transferência de Resíduos (ETR) do bairro Venda Velha, que já está tendo o terreno preparado para o empreendimento.
Além de atender aos cerca de 600 mil moradores do município - que tem uma das maiores densidades populacionais do país -, expansões na unidade a darão uma capacidade de beneficiar até 1,2 mil toneladas diárias de resíduos, o que equivale ao lixo produzido por cerca de 1,5 milhão de pessoas. O objetivo, diz Ecles Luiz dos Santos, diretor geral da URE Fluminense, é fazer de São João de Meriti referência nessa nova matriz energética. Mas também ser uma solução para municípios vizinhos, rompendo com o ciclo histórico da Baixada de verdadeiros absurdos ambientais na destinação desses dejetos.
– A URE é uma inovação diante do aumento da quantidade de resíduos resultantes do crescimento da população e da atividade humana. Queremos criar uma nova mentalidade a partir de produtos que terão um valor diferenciado: não financeiro, mas um valor de qualidade de vida - diz Ecles.
Ele explica que, do resíduo sólido urbano produzido, os biológicos, como restos de frutas, legumes e outros alimentos, depois de desumidificados, continuarão indo para o aterro sanitário. Metais, vidros e plásticos duros, como o PVC, são separados para a reciclagem. A partir daí, outros derivados de plástico - a exemplo das PETs -, com grande concentração de nafta em sua composição, passarão por um processo químico para produzir óleo diesel. O restante, como têxteis, galhos da poda das árvores, pedaços de madeira, derivados de borracha e papel, sofrerá uma granulação e trituração até que suas partículas fiquem em tamanho homogêneo. Esse material que será convertido em energia elétrica ou vendido para os fornos de produção de cimento do interior do estado.
- Em geral, a cada cem toneladas de resíduos, 10% vão para o aterro, de 15% a 20% serão destinados à produção de combustíveis biossintéticos, e os demais 80% a 85% vão virar energia ou comercialização às cimenteiras - afirma Ecles.
Na primeira fase, a URE terá capacidade de gerar 10 MW de energia elétrica, o suficiente para abastecer um bairro de 50 mil habitantes. Parte dela será destinada a um conjunto residencial próximo ao local da unidade, onde os moradores serão beneficiados com a doação de 35% da energia elétrica consumida. Já a cada 400 toneladas de lixo, serão gerados 40 mil litros de combustível biossintético, para abastecer os veículos da própria empresa, toda a frota a diesel da prefeitura e ainda vendê-lo a empresas, como transportadoras, firmas de logística de de navegação. Esse óleo, ressalva o diretor da URE, só não poderá ser vendido nas bombas dos postos de gasolina, por vir de um processo alternativo, não oriundo de refinarias.
Além de gerar esses produtos a partir do que a população joga fora, a aposta na URE é reduzir custos com transporte, tratamento e disposição final adequada dos resíduos, além de gerar investimentos, empregos e renda em São João de Meriti. Essa utilização do lixo para transformá-lo em energia e combustível, no entanto, embora ainda pouco comum no Brasil, é uma solução amplamente usada em vários países desenvolvidos da Europa e da Ásia, além de cidades dos Estados Unidos, para lidarem com esse que é um dos grandes desafios do século. Escler cita exemplos como Seul, na Coreia do Sul, que produz energia térmica para a calefação. Lembra que Paris, na França, tem uma URE instalada dentro da cidade. E que a República Tcheca também utiliza uma tecnologia que faz do plástico combustível.
- Os processos de transformação de resíduos em energia, por exemplo, já vêm sendo trabalhados desde a Eco 92. No Brasil, nosso grande desafio é cultural, de conscientizar a população da importância da separação do lixo, que facilitaria não só a reciclagem, como outras alternativas de destinação do lixo - diz ele.
Via Extra
COMENTÁRIOS