Desde o início da gravidez, a corretora de imóveis Sara Frederichs, de 28 anos, tinha esperança de dar à luz na mesma maternidade onde ela e...
Desde o início da gravidez, a corretora de imóveis Sara Frederichs, de 28 anos, tinha esperança de dar à luz na mesma maternidade onde ela e seus três irmãos nasceram: a Associação de Caridade Hospital São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Aos nove meses de gestação, o desejo não será realizado. Fechada desde 2018 para reformas, a unidade, também conhecida como Hospital do Morrinho, continua com as portas fechadas.
— Quase toda a família nasceu aqui. Foram os irmãos e minha sobrinha também. O médico que faz meu pré-natal trabalhou nessa maternidade. Quando comecei a fazer as consultas, pensei que daria tempo de reabrir. A reforma já dura tanto tempo — lamentou Sara, que vai pagar cerca de R$ 3 mil para dar à luz Emanuelle numa unidade particular.
Irmã de Sara, Mayara Frederichs, de 32 anos, teve os três filhos no Hospital do Morrinho. Ela disse que a unidade já tinha parado o atendimento algumas vezes, mas nunca ficou tanto tempo fechada:
— Vinha gente de tudo que é lugar da Baixada para ter filho aqui. Ela fechou logo depois de eu ter meu filho de 4 anos. Chegou a fechar outras vezes, mas nunca totalmente, como foi agora.
A maternidade era a única no município que fazia partos de baixa complexidade pelo SUS. Quando foi fechada, em maio de 2018, a promessa era de que em dezembro do mesmo ano ela seria reinaugurada. Não foi o que aconteceu. A reforma teve duas fases. A primeira seria concluída em janeiro deste ano, com valor de R$ 391 mil. A segunda terminaria em abril, por R$ 1,9 milhão.
Moradora de Belford Roxo, Suelen Glória Rocha, de 30 anos, torcia pela reabertura do Hospital do Morrinho, mas sabia que isso não iria acontecer até o fim de sua gestação:
— Os próprios médicos da clínica onde faço pré-natal diziam que ela não reabriria. Se deram prazo, tinha que reabrir. Tem pessoas que não têm condições de pagar.
Em maio do ano passado, a Prefeitura de São João de Meriti informou que as obras na maternidade começaram com verba obtida por meio da emenda parlamentar do ex-deputado federal Julio Lopes, no valor de R$ 482 mil. A segunda emenda, de Dr. João, quando ele era deputado federal, seria de R$ 2 milhões.
Nas placas que estão no local, constam o Ministério do Desenvolvimento Regional, a Caixa Econômica Federal e o Ministério da Saúde como responsáveis pela obra. Procurada para falar sobre a falta de opções das gestantes, a prefeitura afirmou que está orientando que as futuras mães procurem maternidades em Mesquita e Irajá, na Zona Norte do Rio.
Quando o Hospital do Morrinho foi fechado, em 8 de maio de 2018, funcionários alegaram, na época, terem sido pegos de surpresa. Eles chegavam para trabalhar quando souberam do fechamento da unidade. Além disso, alegaram estar com 13º salário e férias atrasadas.
Procurado, o Ministério da Saúde confirmou que o recurso em questão é destinado para a reforma da unidade. “O repasse, neste caso, é feito para a instituição e não para a prefeitura. A Caixa Econômica Federal é responsável pelo acompanhamento da obra, que se encontra com 76% da sua execução concluída”.
A Prefeitura de Meriti também disse que as obras não estão paradas, “elas seguem, por etapas, de acordo com a liberação dos recursos da Caixa Econômica Federal” , e “havendo ajuda do Estado e do Governo Federal, a previsão de conclusão é até o final do ano”.
A Caixa reforça que participa somente da intervenção denominada Fase 1, com valor total do repasse previsto em contrato de R$ 396.000,00. Esclarecemos que o valor total creditado na conta vinculada do contrato até o momento foi de R$ 198.000,00 (50%), com R$ 145.817,23 (36,82%) liberados até o momento para pagamento das intervenções. Quanto à intervenção denominada Fase 2, a obra não é acompanhada pela Caixa.
A Caixa informa que não existe cronograma de obras atualizado que permita definir o prazo final das obras. Em 09/03/2020, a Prefeitura informou à Caixa sobre a paralisação das obras ocorrida em DEZ/2019 devido à interferência não prevista em projeto, sem apresentação de prazo para retomada. Com relação ao percentual de obra informado pelo Ministério, esclarecemos que ele considera, além do valor já liberado para pagamento (36,82%), um pedido de liberação de recursos que está em análise na Caixa. Esse pedido foi apresentado em 07/2020 e complementado no início desde mês, referindo-se às obras executadas antes da paralisação.
Via Extra
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